terça-feira, 16 de março de 2010

Café


Foram dois dias de voltinhas, numa rotina de colocar cerca de 400 plantas na caixa da carrinha e de as voltar a tirar perto de uma plantação. Estava calor e as costas e os braços já me doíam mas, cumprindo o programa estabelecido, era importante a entrega dos novos pés de café para a renovação dos cafezais. Entre o viveiro e o agricultor lá se levava mais uma “carrada” ao som da cassete de música country do Sr.Ali.
Durante os tempos de escola, a cultura do café sempre me pareceu fascinante e fez-me ansiar o dia em que poderia finalmente ver uma planta, sentir o cheiro a flor de laranjeira aquando a floração, colher uma "cereja" e observar o grão antes da torra. E esse dia acabou por chegar. Há sonhos que sempre se realizam, pensei… Até me deparar com as plantações com 30 anos de abandono de Timor-Leste. De uma assentada a importância do meu trabalho tornou-se tão grande como estas árvores e espero, que no futuro, não tão improdutivo.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Same

Na terça-feira pelas 14h 30m partimos para uma viagem de cerca 4 horas (se fosse eu a conduzir seriam seguramente umas 6) rumo a Same. Incluido no distrito de Manufahi, este subdistrito, que me leva a recordar a esplendorosa vegetação de São Tomé, será a partir de Maio o meu poiso durante a semana. E estou em pânico. A estrada, com as suas "1001"curvas que nos fazem ter quase "1001" acidentes, com os buracos e deslizamentos de terra devido às fortes chuvas da época, prolonga-se a ponto de esgotar a paciência a um santo. E depois desta aventura ainda existe o desafio do trabalho. Ser a única expatriada a trabalhar a tempo inteiro num ministério, a implementar um projecto, que se espera que tenha sucesso, não é tarefa fácil. Mas nunca é...
Entre angústias e dúvidas existe sempre o apreciar de um local e de uma cultura tão diferente da minha que torna tudo tão "pitoresco". E esta talvez seja a palavra que me surge, no entanto, como hei-de de descrever aquele meio?
Entrei no ministério e fui apresentada aos funcionários, e entre risos e cumprimentos passo para a sala de reuniões apetrechada com as novas aquisições patrocinadas pelo projecto. Logo de início reparo que no centro estão algumas das novas mesas de escritório, rodeadas de cadeiras de plástico, que num canto se estendia uma tela com o conteúdo do computador projectado e que ao fundo se encontra uma pequena árvore de Natal de plástico, estrangulada pelas fitinhas, como objecto de decoração permanente. Achei engraçado esse contraste, o que é que eu estava à espera? e entre pensamentos a minha atenção foi sendo desviada pelo som das vozes ao meu redor que falavam tetum, inglês, indonésio e ocasionalmente o português.