terça-feira, 24 de agosto de 2010

"Não me sinto bem...


... Dói-me muito a cabeça, o pescoço está tenso e estou cheia de frio…”
Começa sempre assim. Um mau estar generalizado que me leva a pedir um termómetro emprestado para me inteirar de que tenho quase 40 ºC. Recorro aos dois paracetamol da praxe e aguardo no escuro que o alívio chegue brevemente, sentindo o suor a encharcar a roupa. “Talvez amanhã esteja melhor…” e deixo-me vencer pelo cansaço.
A esperança desvanece-se logo ao raiar do dia… Com a ajuda daqueles que se tornaram família, aqui tão longe da minha, lá vou, passivamente, doar o sangue para ver “o que raio se passa desta vez”. Após a febre é a vez das hemorragias, das dores nas articulações, do cansaço instalado sem data de partida e dou por mim com demasiado tempo para reflectir. Não é bom… estou demasiado frágil para ser coerente naquilo que quero e só penso em partir. Tenho saudades de casa… e vêm-me à cabeça as imagens de quem gosto.
Com as melhoras ganho um novo fôlego. Volto a encontrar sentido nesta vida que por vezes parece não fazer sentido algum, mas à qual já não consigo voltar as costas.

domingo, 8 de agosto de 2010

As voltinhas no machibombo

Na cidade de Dili, andar na estrada pode ser bastante aborrecido. No alto da “kareta” (pronuncia-se carreta), com a minha colega pacientemente a conduzir, não há muito a fazer nas horas de ponta a não ser deixar-me levar pela paisagem citadina de um trânsito caótico. Neste compasso não há nada como uma boa conversa que roça o “nonsense”. Atira-se sempre uma piada acerca da senhora que vai sentada à donzela na mota da frente, pois a mini saia e os saltos não permitem ir de outra forma, faz-se referência à lição de equilíbrio de uma família inteira que segue em cima da mota vizinha, comenta-se o “bom gosto” dos sofás da loja de mobiliário e do visual da mikrolete que se meteu à “rasca” ao nosso lado. Nestes momentos também se encontra uma brecha para falar da família e das experiências passadas em Timor. E já começam a ser bastantes experiências. Numa destas conversas a minha colega recorda uma festa em Same onde o “protocolo” (a pessoa que dirige a festa) faz um aviso ao microfone no decorrer da dança, que é tradicionalmente aos pares, “…. tem que respeita, tem que disciplina”. Não sei porquê acho o comentário hilariante, ensanduichada entre dezenas de motas e carros onde a regra é a excepção.